quinta-feira, 15 de março de 2018

Hasta Siempre, Marielle (Por Ernesto Xavier)

"Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades...
" (Cazuza)


A morte de Marielle não é algo fácil de se digerir. Não é apenas mais uma morte.

Em primeiro lugar devemos entender quem ela era.

Morreu uma mãe negra.

Uma mãe negra periférica. Uma mãe negra da favela que virou liderança política em uma cidade sitiada por bandidos fardados, bandidos de colarinho branco e bandidos descamisados. Uns se confundem com os outros. Difícil dizer quem é quem. Quando termina um e começa o outro? No Rio é difícil dizer.

Mas além das questões partidárias, ideológicas e de qualquer outro gênero, devemos lembrar que ali tinha (tem) um ser humano, com família, com amigos, com sonhos, anseios, angústias, questões, erros, acertos. Morreu um ser humano.

Morreu também uma ideologia. Morreu uma ideia de que ainda podemos lutar por algo. Não podemos, amigos. Somos nada. Somos pó de estrelas sendo soprados aleatoriamente no universo.

Dispersos em neuroses. Somos poeira, colegas.

Neste caso, somos corpos negros violados. Desfigurados. Acuados. Coagidos. Indefesos.

Somos carne negra sendo vendida a preço de banana.

Lutar por algo que mexesse na estrutura racista, misógina e desigual desse país sempre fez jorrar sangue. Nossa história é de guerra, não de paz.

Marielle era da Maré.

Marielle lutava pelas milhares de vidas negras e pobres perdidas diariamente.

Marielle era presidente da comissão que fiscalizaria a intervenção na câmara municipal.

Marielle denunciou as mortes de jovens em Acari por policiais no último final de semana.

Marielle incomodava e muito.

Marielle somos nós, companheiros.

Se você não se importa, talvez não tenha entendido que o próximo também pode ser você.

Quem matou Marielle?

Quem poderá afirmar? 

Quem mata os mais de 40 mil corpos de jovens negros todos os anos no Brasil?

O Brasil matou Marielle.

Marielle, PRESENTE.

Descanse em paz. Seja lá onde essa paz possa ser alcançada.


#SentiNaPele


Ernesto Xavier é ator, jornalista e escritor. Autor do livro "Senti na pele".




























Nenhum comentário:

Postar um comentário