terça-feira, 9 de maio de 2017

Perdemos o senso do Caos (Por Thiago Muniz)

Caos significa desordem, confusão e tudo aquilo que está em desequilíbrio.

Na mitologia grega, Caos é considerado o deus primordial do universo, de acordo com a narrativa do poeta grego Hesíodo. Inicialmente, Caos seria interpretado como o “vazio” ou o “ar” que preenchia o espaço entre a Terra e o Éter (céu superior). Este significado se originou a partir da etimologia da palavra “caos”, derivada do grego khaíno, que pode ser traduzido como “separar”.

A relação do Caos com a desordem e o desequilíbrio só foi atribuída pelo poeta romano Ovídio. Caos passou a ser visto como um oposto de seu filho, Eros. Ou seja, enquanto Eros representava a união das forças e elementos, o Caos simbolizava a quebra, cisão e separação. A versão da história mitológica de Hesídio e Ovídio conta que antes da criação de Eros, o universo vivia em constante desordem. Todos os componentes necessários para a criação estavam dispersos e desorganizados.

A partir de então, Caos passou a ser reconhecido como o deus da desordem.

Tudo na vida é uma questão de referência. Ponto.

Na medida em que os meios de comunicação vão se disseminando e se anarquizando, todos ficamos sabendo de histórias que, até pouco tempo, praticamente não saíam de um raio de metros de suas origens.

A arrogância humana é tamanha, no entanto, que se costuma interpretar esse excesso de histórias dramáticas varrendo as redes sociais como uma prova incontestável de que o mundo caminha para uma piora.

O mundo não está ficando pior.

Há pouco menos de 300 anos, Tiradentes foi enforcado em praça pública, esquartejado e teve seus pedaços espalhados pela cidade.

Durante a inquisição, queimar supostas bruxas em praça pública, vendo-as agonizar até a morte, era mais do que uma punição eclesiástica: era a diversão dominical de famílias inteiras que se reuniam, ansiosas, para acompanhar a festa.

Nas cruzadas, as forças cristãs tinham o hábito de catapultar cabeças decepadas de muçulmanos para dentro de suas fortalezas como uma espécie de marketing militar, buscando assustá-los.

No Império Otomano, os sultões e príncipes podiam ter múltiplas esposas e concubinas – sendo que a diferença essencial entre uma e outra era que eles podiam espancar todas o quanto quisessem, mas assassinar as esposas era pouco tolerado.

Nas arenas romanas, ver gladiadores matando-se uns aos outros ou brigando contra leões era tão divertido que fazia a população esquecer de seus problemas ao se deliciar com mortes absolutamente bárbaras.

Hoje, quando algum caso parecido com esses ocorre e é transmitido pela Web ou pela TV – como com o Estado Islâmico ou o Boko Haram – bradamos aos quatro cantos que o mundo está cada vez pior e que a humanidade está fadada sucumbir à sua própria perversidade.

Não discordo de que haja muito pouca bondade na raça humana como um todo – mas é contradizer a história afirmar que a sociedade moderna e multiconectada não tenha sido altamente eficaz em elevar as barreiras éticas e comportamentais e trazer níveis de paz que, embora ainda insuficientes dadas as barbáries que insistem em acontecer, foram responsáveis por transformar o nosso mundo em um lugar cada vez melhor.

E por que, ainda assim, insistimos na tese de que tudo piora a cada dia?

Porque as referências que mais contam são sempre as imediatas, as mais próximas. É o presente, e não o passado remoto, que desenha a nossa percepção de mundo.

É o presente que, quase isoladamente, determina a nossa definição de caos.

Ou você realmente acredita que os genocídios do Boko Haram comoveriam os pacatos cidadãos de uma pequena cidade qualquer na Idade Média, cujos ânimos ficavam ouriçados sempre que podiam testemunhar, como diversão em família, uma suposta bruxa queimando viva no fogo da inquisição?

E assim, no país da bandidolatria e onde a banana come o macaco, vozes das mais variadas matizes surgiram para pleitear igualdade de tratamento a milhares de criminosas detidas atualmente no país.

Ora, nesse país onde multidões saem às ruas para pedir o fim da violência; onde se vestem de branco ou estampam camisetas a cada assassinato, estupro, sequestro, desaparecimento de vítimas, entre outros crimes, por que ao invés de se rebelarem contra a soltura da senhora de alto poder aquisitivo que teve regrada o retorno ao lar no bairro do Lebron, invertem as coisas e direcionam suas energias para postular justamente que outras pessoas criminosas (criminosas!) sejam liberadas?

Abstraia-se esse maniqueísmo pseudomarxista de briga de classes e diferença entre ricos e pobres, antes de continuar o raciocínio e diga:

Se um juiz soltar um jogador de futebol que mata uma mulher de forma bárbara e covarde, e desaparece com o corpo. Solta um assassino que assim agindo pune tanto a vítima como também seus familiares.

Posta em liberdade um criminoso que sem escrúpulos deixa, assim, uma criança recém-nascida sem a proteção, carinho e presença da mãe para o resto de sua vida. É válido então se postular em facebook, em revistas canhestras ou mesmo frente ao Supremo Tribunal Federal, que todos os brasileiros que assassinarem a mãe de seus filhos e que estejam em mesma situação sejam postos em liberdade?

Não parece óbvio que a indignação deve se voltar para que haja o retorno do assassino à cadeia e não a soltura de outros assassinos?

Como na clássica cena do cult “Filadélfia”, protagonizada pelos grandes Denzel Washington e Tom Hanks, até mesmo uma criança de 6 anos saberia que não é porque algo inaceitável e errado foi feito e tenha beneficiado indevidamente alguém que seja certo então se postular a convalidação de atos errados e injustos para também indevidamente beneficiar a outros.

O mesmo país que gritava por punição aos chamados poderosos e possui neste momento encarcerados alguns dos empresários mais ricos do continente sul americano; que possuí trancafiadas por diversos tipos de crimes figuras políticas que outrora ocupavam os cargos mais importantes da república; que observou essa semana a condenação de mais um agente político que figurava há poucos meses na linha sucessória da presidência desta nação; esse país não pode jamais retroceder quando um caso excepcional e destoante surge para insanamente alguns postularem o liberou geral e previsível caos.

A punição, essa sim, tem que ser democrática, já que a prática de crimes afeta universalmente a todos.



































BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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