domingo, 13 de março de 2016

O Pragmatismo do 13 de Março (Por Thiago Muniz)

Uma coisa é falar em saída do governo Dilma Rousseff; outra coisa é falar em saída da crise político-econômica atual.

Uma não coincide exatamente com a outra; a segunda não se reduz à primeira. Saindo Dilma, a crise não acabará. Nem tampouco começará a acabar, como acreditam alguns defensores do impeachment, da renúncia ou da mudança de regime de governo.

Observando os cartazes dos manifestantes contrários ao governo neste domingo em todo o país, pode-se notar que a maioria deles brada palavras-de-ordem que se limitam apenas à saída de Dilma. “Fora Dilma e leve o PT junto” é a mais comum. 

É uma visão que pode até expressar a legítima posição política de muita gente em relação ao governo, mas revela também uma certa miopia diante dos cenários de mais longo prazo. 

É uma percepção curta, imediata, que pensa a saída da crise apenas com o afastamento da presidente da República ou o esvaziamento do seu poder.

As fontes de instabilidade do governo, hoje, são múltiplas. Algumas delas, é verdade, têm a ver com o governo da vez. No entanto, elas são apenas uma parte das determinantes da conjuntura atual. 

Uma das principais fontes de instabilidade, a Operação Lava Jato, sequer chegou à pessoa da presidente, não obstante várias lideranças políticas que vão às ruas neste domingo ou que são simpáticas aos manifestantes já tenham sido nominalmente citadas em depoimentos ou já estejam acumulando processos contra si.

Dilma e o PT têm suas culpas, e não são poucas nem pequenas. A conjuntura não é responsabilidade apenas da mídia, ou da oposição, ou das elites, ou qualquer outro algoz de ocasião. No entanto, os mesmo que criticam a presidente, defendendo que ela lidere um governo de união nacional, são aqueles que se negam a conversar com Dilma. Certamente esses setores também têm suas justificativas. 

Mas não podem se eximir da culpa pela crise política que aí está, nem tampouco dos seus impactos sobre o ambiente econômico, já totalmente contaminado pela paralisia em que nos encontramos.

Se Dilma sair ou, ficando, tiver seus poderes diminuídos pela mudança de regime de governo, teremos o início de uma nova crise, que é parte dessa conjuntura maior de instabilidade, e não o fim do que estamos vivendo hoje. Essa nova crise terá como principais razões:

1. Continuidade da Operação Lava Jato e o fato de que ela irá alcançar nomes de um eventual futuro governo;

2. Tentativas de um eventual futuro governo justamente em limitar o alcance da Lava Jato;

3. Questionável capacidade de Michel Temer, vice-presidente, em liderar um governo de coalizão;

4. Existência de um processo no TSE que pode vir a cassar até mesmo o futuro presidente, caso o vice venha a assumir;

5. Possibilidade, ainda que remota, de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, venha a assumir a Presidência;

6. Instabilidade política que um possível regime parlamentarista geraria, dada a fragmentação partidária do Congresso, o peso que a futura nova oposição teria, etc.

7. Vício de origem que o chefe de governo teria ao ser eleito indiretamente por este que é o pior Congresso em 50 anos;

8. Continuidade da crise econômica, interna e externamente.

O que me estranha nesses protestos é a falta de coerência do protesto em si. Acho que se fosse o povo pelo povo a manifestação seria coesa.

Mas o povo apoiando elite e manutenção de privilégios, aplaudindo políticos, também, corruptos, e até Malafaias, Bolsonaros, Fascistas em geral, é meio esquizofrênico. Claro, alguns políticos vão tirar proveito da situação para se promoverem e vão as ruas também. 

Realmente não sei se se convocar uma manifestação e seguir um pessoal que ergue uma bandeira de "Militares no poder" é progressista ou racional. A insatisfação pela conjuntura do governo é visível e protestos têm que ser feitos. 

É nosso dever fazer crítica (não aquela crítica de apontar erros, mas sim no sentido do senso crítico de questionar o que está sendo feito). Porém, a irracionalidade dos manifestação é clara. Bandeiras absurdas são levantadas. É muito estranho a classe mais elitizada ir as ruas com um conteúdo tão apolítico.

O país foi incapaz de deter o processo e até hoje há quem pense que os bandidos vão vencer no final: PT e PMDB continuarão nos assaltando pela eternidade. 

Como foi possível conviver com tanta ladroagem? 

Como foi possível aceitar versões tão enganadoras? 

Como foi possível cultuar o cinismo que nos corrói? 

Ainda agora, surgem as velhas trapaças. O PT ameaça soltar nas ruas barbudos de camisa vermelha, e há garotas fazendo gestos obscenos com o dedo. 

Ao PT interessa a hipótese de conflitos. Se as pessoas tiverem medo, não sairão às ruas. E alguns cronistas vão dizer: caiu o ímpeto do impeachment, Dilma respira de novo. Dilma tem respirado à custa da nossa asfixia.

A Lava-Jato ainda está em curso. Vai sobrar pra praticamente todos os grandes partidos. Na linha de sucessão de Dilma tem o PMDB de Temer, Cunha e Renan. Figurões do PSDB tb estão citados em delações. Lembrei da música do amigo Ivan Lins (e do Vitor Martins): "cai o rei de ouro, cai o rei de espadas, cai o rei de paus, cai, não fica nada". O sistema político dominante no Brasil está falido, mas seus usufrutuários recusam-se a sepultá-lo.

Só um adendo: Aguardando as últimas fotos das manifestações no Capão Redondo, em São Mateus, São João de Meriti, Nova Iguaçu, Setor O de Ceilândia, Rocinha, Complexo do Alemão, Diadema e outras áreas metropolitanas equivalentes. Afinal, ouvi desde de manhã que elas acontecem "por todo o Brasil".


BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




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