domingo, 9 de agosto de 2015

Quem ganha e quem perde? (Por Thiago Muniz)

Quem perde e quem ganha com a saída ou a permanência da presidente no poder.

Há muito mais do que isso em jogo. É a lógica dos políticos. 

Faz-se uma planilha com coluna de débitos e créditos, listam-se os nomes na vertical e os cenários na horizontal e preenchem-se os espaços com o resultado esperado para cada uma das combinações. Não é isso o que está em debate. 

A questão não é quem ganha com a saída de Dilma. É a responsabilidade objetiva que a presidente da República tem em cada uma das crises que a ameaçam no cargo: 

- as pedaladas fiscais, 
- os malfeitos do petrolão e, 
- as doações de caixa 2 para sua campanha eleitoral em 2014. 

A degradação de sua base política é influenciada por esses três fatores mas não é resultado deles -- e sim da inoperância do governo e da inabilidade da própria presidente. Evidentemente, as condições políticas adversas podem facilitar e acelerar o impedimento da presidente em cada um dos três caminhos propostos (o das contas no TCU, o da campanha no TSE e o do Petrolão no STF). 

Desses três caminhos, um parece mais próximo do desfecho. Tudo indica que o TCU reprovará as contas do governo em 2014 e que a Câmara irá ratificar esta reprovação, abrindo-se o caminho para uma ação penal contra a presidente por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. 

Dilma deveria ser poupada para que Lula não volte em 2018. Assim, as instituições devem ser subjugadas em função dos cenários eleitorais.

Fatos são fatos, e não haverá como fugir da lei uma vez que se estabeleça a culpa da presidente, duela a quem duela, como já disse aquele famigerado personagem da nossa História -- o que, infelizmente, me parece que acontecerá cedo ou tarde. 

Digo infelizmente porque, eu também sou contra o impeachment, por: 

1. achar que essa fatura deve ficar com o PT (ainda que o prejuízo seja nosso); 

2. acreditar na chantagem petista de que o país ficará ingovernável (eu sempre acredito em chantagens petistas, dado que com bandidos não se brinca -- você já pensou isso que está aí, acrescido de greves diárias, black blocs, militantes histéricos, funcionários públicos revoltosos e exército do Stédile nas ruas? ao mesmo tempo, exatamente enquanto escrevo isso, me dou conta, também, de que este é um argumento ao qual não devemos em hipótese alguma ceder) e;

3. last but not least, não ver uma figura decente no cenário político para substituir a Dilma (não que a Dilma seja decente; para mim, quem falsifica Currículo Lates é indecente ao extremo; mas me pergunto se vale a pena trocar seis por meia dúzia, ainda por cima com toda a convulsão social do quesito anterior.).

Claro que sei que esses motivos não se sustentam diante de evidências legais, estou apenas expondo um sentimento pessoal.

A questão primordial aí é a da credibilidade do Estado Brasileiro, tanto no cenário interno quanto no externo. Como viver mais três anos e meio nos equilibrando em corda bamba? Não há Economia no mundo que aguente. A saída dela vai acalmar o Mercado e trazer de volta os investidores. Sou pela solução menos traumática que seria a renuncia ainda que forçada e a posse de Temer. Quanto ao Lula, de animal político ele passou a animal acuado. Se Deus realmente é brasileiro, dentro em breve ele será um animal enjaulado.

A fatura deve ficar com o PT; e o prejuízo, fazer o quê. é nosso, sempre. Precisamos, sim, analisar situando débitos e créditos já que, pedaladas fiscais, para todos que assistimos a grotesca e mentirosa campanha eleitoral, eram quase previsíveis. Se engolimos a campanha por que não as pedaladas? Acredito que deixamos passar o momento. A Dilma, no poder, ainda representa alguma estabilidade que garante o andamento das investigações da Lava a jato. Será que o PMDB, com seus políticos sob investigação, representariam uma alternativa segura? Talvez ela não deva permanecer até o final do mandato mas ainda não é o momento de sair, tem que apodrecer mais, agora que as investigações chegam á cúpula, troca de comando vai complicar.

Parte do PT já abandonou Dilma, fazem teatro,mas desejam colocar tudo na conta dela. Porém, a presidenta tem dificuldades na formação das ideias, comprometimento no raciocínio. Além de dislexia. Só fala que foi torturada pela ditadura, achando que isso comove o povo. Na realidade encontra-se amarrada na junta governativa, Temer, Renan, Cunha. A grande camarilha do Planalto.

Apesar dos pesares, na minha humilde opinião, numa utópica resolução conjunta, executivo mais legislativo, manteríamos a Dilma com rigoroso escrutínio do congresso sobre as decisões dela. Isto daria pelo menos a sensação mínima de equilíbrio. Esta manobra evitaria problemas mais sérios, não imaginados por aqueles que defendem o impeachment e novas eleições, como p. Ex. A quebra constitucional, já que Temer deveria assumir .

A possibilidade das candidaturas de Cunha e Calheiros (ou de candidatos apoiados por eles - que, s meu ver, neste cenário, romperiam com o PMDB) e , pior, a possibilidade de uma nova candidatura Lula. Sei que os mais apressados dirão que ele não tem a menor chance. Errado. Moro na Zona Oeste do Rio e por aqui não houve panelaço nem passeatas. Não por acaso, o que muito me incomoda, esta região é chamada de curral eleitoral. Ou há ainda quem acredite que os eleitos garantem-se nas elites. Aqui como no norte e nordeste existe um enorme contingente indiferente ao que se discute nas mídias. Achar que o impeachment é a solução dos problemas é ter uma visão míope da realidade.

A que ponto chegamos, graças ao PT! Termos que avaliar o que é mais importante ou desejável:um cenário eleitoral ou um princípio ético/legal/político. Isso tudo deveria estar junto, mas a degradação da atividade política (em geral), junto com a esbórnia feita pelo PT com todos os aspectos do Brasil como nação nos levou até a considerar a dissociação destes valores que deveriam andar juntos, mas que quase todos (me incluo) temem que gere como único resultado (apesar de ocorrer por várias vias) a piora da situação como um todo. Tristes tempos. Deveria haver um meio legal e institucional para tirar os políticos todos e renovar o país de ponta a ponta. Mas isso é trabalho para ser contado em anos ou décadas. Ainda assim temos que começar já.

Quando Cunha rompeu com o governo, logo pensei: "Manobra do PMDB!" Em menos de um mês, partidos políticos rompendo com o governo, Temer fazendo jogo pedindo ajuda a oposição e aos empresários. Não sei o que a Dilma irá fazer, mas sem o congresso o país vai descer ladeira abaixo. E tudo indica que trocaremos 6 por meia dúzia.

A grande diferença entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos é o funcionamento da justiça! Nos desenvolvidos a Lei é respeitada, nos subdesenvolvidos a lei é sub-respeitada!

O pedestal das democracias são as leis. O melhor caminho é o mais simples: Cumpra-se a lei!

Acho que deixar a caneta presidencial na mão do PT, o considerando morto, é um risco que nos deu a Dilma de presente no mensalão, que foi troco perto do Petrolão. E esta visão de falta de opção é fortemente impregnada pela desconstrução promovida por anos pelo PT. Engolir um rombo de 70 bi numa única estatal e um festival de obras paradas ou abortadas, porque vai haver convulsão social, não faz sentido. Como disse George Washington na explosão da guerra civil americana, é o preço que vamos ter de pagar para que o certo seja feito. Só teremos um país sério se suas instituições forem respeitadas, neste caso, principalmente pelos seus ocupantes. O panelaço ocorre unicamente porque a presidente usa os meios de comunicação para divulgar mentiras. Ninguém em sã consciência confia nos ocupantes do governo. Nem eles mesmos. Logo após o pedido de união do Temer, amplamente apoiado pelos empresários, o PT sutilmente correu para ofuscá-lo. Se tivesse noção, a presidente deveria ter feito isso no primeiro dia de governo.

Realmente as consequências de uma possível saída de Dilma são desastrosas e podem (e serão) usadas a favor de Lula em 2018. Dirão q tudo piorou com a saída da "presidenta", e o povão vai engolir este argumento, sem nem perceber q o próprio PT foi e será o responsável pela situação imposta. Confesso que temo mais o PT pelos seus planos para p/ Brasil do que pelo seus planos de poder e enriquecimento, mas creio que Ruth e Cora têm razão: esta fatura precisa ser paga pelo PT. Afinal, por mais ruim que esteja sendo, pode ficar pior. É como matar o chefe do tráfico e ter que lidar com a represália dos comparsas, sem ter uma polícia competente para enfrentar a bandidagem.


BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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