domingo, 30 de agosto de 2015

Galán: o político que não se vendeu a Pablo Escobar (Por Thiago Muniz)

"Ni un paso atrás, siempre adelante.
(Luis Carlos Galán)

A noite de um sexta-feira 18 de agosto de 1989 o narcotráfico e os seus vínculos com o poder político conseguiram outra vitória na Colômbia. O candidato à Presidência Luis Carlos Galán, um liberal que tinha prometido lutar contra o crime organizado no país em tempos de Pablo Escobar, morria crivado a balas quando se dispunha a dar um dos seus famosos discursos.

O assassinato foi uma tragédia que marcaria para sempre a história de um país que vivia momentos terríveis de violência com o auge de Pablo Escobar e seus sequazes, o cartel de Medellín, quem tinham alcançado estabelecer fortes vínculos com as altas esferas políticas colombianas.



Galán, liberal e ex-ministro de Educação do Governo de Miguel Patrana, queria desafiar à dinâmica que governava a Colômbia e sob a frase: "Nem um passo atrás, sempre adiante, e o que for necessário, será", decidiu defender até o final a luta contra a corrupção, a violência e o narcotráfico.

"Apesar de que era um menino, lembro o que estava acontecendo. Os assassinatos de Rodrigo Lara (ministro de Justiça), Jaime Pardo Leal (da União Patriótica), Guillermo Cano (jornalista). Todos em casa sabíamos que papai era um homem ameaçado e que a Colômbia sofria com os violentos", rememora o seu filho Carlos, segundo o diário colombiano 'El Espectador'.

A sua família lembra Galán, como um "mamagallista (brincalhão) por natureza", mas cujo caráter teve que mudar à força, quando sofreu a primeira tentativa de assassinato, em 4 de julho de 1989. As autoridades lograram deter os culpados, mas desde então os seus dias estavam contados.

Aquele dia fatídico a mulher de Galán, Gloria, lhe tinha insistido para que não fosse à uma manifestação em Soacha, no sul de Bogotá. Tinha medo depois do atentado frustrado que haviam preparado contra eles e depois dos assassinatos uns dias antes do magistrado Carlos Valencia García e do coronel Valdemar Franklin, na Antioquia.

Ignorando os conselhos da sua família, Galán dirigiu-se a Soacha disposto a pronunciar um discurso. Cumprimentou a multidão que o esperava e subiu a uma improvisada tarimba, onde lhe esperavam os seus assassinos. De repente se escutou a primeira rajada de balas. As televisões colombianas captaram aquele momento histórico que tirou a fala dos seus espectadores e que afundou mais ainda na escuridão a uma Colômbia que, por aquele então, nunca se tirava o luto.

Ainda que uma boa parte do país critica a impunidade do assassinato do líder liberal, a Promotoria tem uma lista de condenados e uma hipóteses clara sobre os motivos deste crime, que estaria vinculado com outros quatro magnicídios.

Após anos de investigação, e após o assassinato de oito dos testemunhas do caso, entre eles os próprios sicários, os fiscais sustentam que Galán foi assassinado por uma aliança criminal entre inimigos, que sob a liderança de Pablo Escobar pretendiam acabar com aqueles líderes contra o crime organizado que tivessem possibilidades de alcançar o poder.

Entre os já condenados e acusados do caso encontram-se o narcotraficante John Jairo Velásquez, alcunhas 'Popeye'; o ex-ministro Alberto Santofimio Botero; os coronéis da Polícia Manuel Antonio González; o ex-comandante do primeiro distrito de Soacha Luis Felipe Montilla; além do general em retirada Miguel Maza Márquez, quem recentemente foi julgado, entretanto não tem a condena aplicada.

Segundo a Promotoria, entre as testemunhas e implicados no caso que foram assassinados ao longo dos anos estaria o responsável do homicídio.

Sobre os avanços e obstáculos que teve a investigação pelo assassinato de Galán, o seu filho Carlos falou também de supostos vínculos do clã dos Ochoa com o assassinato do seu pai, segundo informou Caracol Rádio.

Outro membro da família, o ex-vereador de Bogotá e irmão do liberal, Antonio Galán, destacou que desde o princípio das investigações forças escuras levaram para outros setores as investigações e fizeram que inocentes fossem à prisão por um delito que não cometeram.

Segundo os investigadores do caso, há uma carta que no próximo 22 de outubro, quando se adiante um julgamento contra os dois coronéis implicados, poderia dar novas pistas do crime.

A carta é o testemunho de um cabo da Polícia que fazia parte do grupo motorizado que encarregava-se da segurança na praça de Soacha para o evento de Galán.

Supostamente, esta testemunha teria informação de quem ordenaram alterar a segurança do candidato presidencial e tiveram o poder de manipular os relatórios da Polícia de Soacha.

Este testemunha, identificado como José Ariza Lancheros, teria permanecido escondido e com segurança durante vários anos e, aparentemente, teria provas para resolver um dos magnicídios a mãos de cartel mais importante e mais controversos do país.

Em resposta, o governo ordena a prisão de numerosas propriedades pertencentes aos chefões do cartel de Medellin e o fechamento da fronteira para impedir a fuga dos traficantes. A máfia, por sua vez, dinamita as sedes dos partidos Liberal e Conservador e multiplica as ameaças de morte. Uma nova guerra entre o governo colombiano e a máfia da droga estava começando.

Em 1982, Pablo Escobar, um homem muito rico, nascido em Antióquia e de antecedentes desconhecidos, era inicialmente membro do Partido Novo Liberalismo de Galán. O senador conhecia detalhes sobre suas atividades ilegais e publicamente o rejeitava diante dos milhares de apoiadores de Antioquia e de toda a Colômbia.

Galán continuava com sua ascendente carreira, abstendo-se, porém, de concorrer às eleições de 1986 a fim de evitar as divisões dentro do seu partido, sendo, no entanto, reeleito uma vez mais como senador. Isso permitiu ao Partido Liberal reconquistar a presidência com a eleição de Virgílio Barco, mas com um terrível custo:o partido perdeu 50% dos votos conquistados na eleição anterior. 

Foi somente com a mediação do ex-presidente Julio César Turbay que Galán retornou ao partido em 1987 tentando ganhar a indicação para candidato presidencial.

Galán estava crescentemente incomodado com a violência e a corrupção que os cartéis da droga, chefiados por Escobar e Gonzalo Rodriguez, impunham à Colômbia.

Ele tentava respaldar o débil governo de seu correligionário buscando contrabalançar o poder de seus perigosos inimigos.

De acordo com relatos, as primeiras ameaças de assassinato foram chamadas telefônicas feitas diretamente para a residência de Galán. Folhetos foram deixados na caixa de correio ameaçando matar ou sequestrar seus filhos. Uma tentativa de matar Galán com uma lança-granadas fracassou quando visitava Medellin em 4 de agosto de 1989. A tentativa foi frustrada pelos homens de Waldemar Quintero que foram avisados. Quintero era o comandante da Polícia Nacional Colombiana em Antióquia e, como Galán, havia sido prefeito de Medellin.

Após esses acontecimentos, Galán e sua família restringiram seus deslocamentos especialmente durante a noite. Dias depois, o staff de Galán recebeu informação da inteligência colombiana alertando-o da presença em Bogotá de um grupo de sicários com a intenção de matá-lo. A equipe o aconselhou a não viajar à cidade de Soacha e que o deslocamento para Valledupar era mais recomendável, uma vez que também estava agendado para participar de um jogo de futebol do qual a seleção estava participando. No último momento, Galán mudou de ideia e ordenou que seus assessores preparassem a viagem para Soacha.

Galán foi morto enquanto caminhava em direção ao palanque, prestes a falar a uma multidão de 10 mil pessoas. O cartel da droga estava preocupado com a possível aprovação no Congresso de um tratado de extradição com os Estados Unidos e imaginava que com o atentado afastaria da votação os inimigos políticos de Galán temerosos de seu crescente poder.

Segundo John Jairo "Popeye" Velásquez e Luis Carlos "El Mugre" Aguillar, ex-sicários de Escobar, o assassinato foi planejado numa fazenda pelo narcotraficante Gonzalo "El Mexicano" Rodríguez, o líder do Partido Liberal, Alberto Santofimio e outros. Velásquez afirmava que Santofimio tinha certa influência sobre as decisões de Escobar e que o ouviu exclamar “mate-o Pablo, mate-o!”. Outros potenciais bandidos foram mencionados por um membro desmobilizado do grupo paramilitar “Ernesto Baez” das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) que testemunharam que o assassinato de Galán havia sido organizado pela máfia com a participação de elementos corruptos do exército e da DAS (Departamento Administrativo de Segurança), a polícia política.

Em 2004, numa carta escrita por um dos sicários que havia se infiltrado entre os guarda-costas de Galán sugeriu que o assassinato foi executado com a ajuda de um policial corrupto e alguns membros de seu corpo pessoal de segurança, que haviam sido comprados pelos chefões do cartel das drogas, inclusive Escobar. A maioria dos presumíveis sicários presos foram mortos na cadeia ou logo após sua libertação, supostamente para silenciá-los.

Em 13 de maio de 2005, o ex-ministro da Justiça e congressista pelo Partido Liberal, Alberto Santofimio, conhecido por suas estreitas ligações com Escobar durante os anos 1980, foi preso e acusado de ser o autor intelectual do assassinato de Galán.

De acordo com novos depoimentos do chefe do bando de Escobar, John Jario Velásquez, Santofimio teria abertamente sugerido a eliminação de Galán durante um encontro secreto, a fim de eliminar seu rival, para também, no caso de Galán ser eleito presidente, evitar a provável extradição de Escobar. Em 11 de outubro de 2007, Alberto Santofimio foi condenado a 24 anos de reclusão.





BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.

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