quinta-feira, 9 de julho de 2015

Barão de Mauá: um pioneiro a frente de uma nação arcaica (Por Thiago Muniz)

Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Barão de Mauá, e mais tarde Visconde de Mauá foi um notável empresário, industrial, banqueiro, político e diplomata brasileiro. Foi um símbolo dos capitalistas empreendedores brasileiros do século XIX.

O Barão de Mauá nasceu em Arroio Grande, município de Jaguarão, Rio Grande do Sul. Órfão de pai viajou para o Rio de Janeiro, em companhia de um tio, capitão da marinha mercante e, aos 11 anos, empregou-se como balconista de uma loja de tecidos. Passando a trabalhar na firma importadora de Ricardo Carruthers (1830), este lhe ensinou inglês, contabilidade e a arte de comerciar.

Aos 23 anos tornou-se gerente e logo depois sócio da firma. A viagem que fez à Inglaterra em busca de recursos (1840), convenceu-o de que o Brasil deveria caminhar para a industrialização. Iniciando sozinho afrente do ousado empreendimento de construir os estaleiros da Companhia Ponta da Areia, fundou a indústria naval brasileira (1846), em Niterói, RJ, e, em um ano, já tinha a maior indústria do país, empregando mais de mil operários e produzindo navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e tubos para encanamentos de água.

Ao longo de sua vida foi merecedor, por contribuição à industrialização do Brasil no período do Império (1822-1889), dos títulos nobiliárquicos primeiro de barão (1854) e depois de Visconde de Mauá (1874). Foi pioneiro em várias áreas da economia do Brasil. Dentre as suas maiores realizações encontra-se a implantação da primeira fundição de ferro e estaleiro no país, a construção da primeira ferrovia brasileira, a estrada de ferro Mauá, no atual estado do Rio de Janeiro, o início da exploração do rio Amazonas e afluentes, bem como o Guaíba e afluentes, no Rio Grande do Sul, com barcos a vapor, a instalação da iluminação pública a gás na cidade do Rio de Janeiro, a criação do primeiro Banco do Brasil, e a instalação do cabo submarino telegráfico entre a América do Sul e a Europa.

Primeiro como barão, título recebido após construir a primeira estrada de ferro da América do Sul, e vinte anos depois, Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Sousa é o principal representante dos primórdios do capitalismo na América do Sul, ao incorporar e adotar, no Brasil, ainda no período do Império brasileiro (1822-1889), em suas empresas, os recursos e maquinários aplicados na Europa e nos Estados Unidos no período da Revolução Industrial do século XIX. É considerado, pelos registros históricos, como o primeiro grande industrial brasileiro. Foi um dos grandes opositores da escravatura e do tráfico de escravos, entendendo que somente a partir de um comércio livre e trabalhadores libertos e com rendimentos poderia o Brasil alcançar situação de prosperidade. Todavia, somente com a Lei Áurea, de 1888, foi abolida a escravatura no Brasil, assinada pela princesa regente Isabel.

Em 1837 adquire uma chácara no Morro de Santa Teresa. Chamava seus empregados de meus auxiliares. Criou antipatia de senhores de engenho e também da corte, por dar abrigo a escravos foragidos. Em 1840 vai buscar sua mãe, sua irmã, e sua sobrinha adolescente Maria Joaquina. As três se instalaram em sua chácara. Mauá vai para a Inglaterra e traz um anel de ouro. Presenteia a sobrinha, era o pedido de casamento. Casaram-se em 1841 e juntos tiveram 12 filhos. Dona Guilhermina, sua irmã e sogra, comandava a casa, agora uma mansão na rua do Catete.

Da Ponta da Areia saíram os navios e canhões para as lutas contra Oribe, Rosas e López. A partir de então, dividiu-se entre as atividades de industrial e banqueiro.O Barão de Mauá foi pioneiro no campo dos serviços públicos: fundou uma companhia de gás para a iluminação pública do Rio de Janeiro (1851),organizou as companhias de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas (1852), implantou a primeira estrada de ferro, da Raiz da Serra a cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro (1854), inaugurou o trecho inicial da União e Indústria, primeira rodovia pavimentada do país, entre Petrópolis e Juiz de Fora (1854), realizou o assentamento do cabo submarino (1874) e muitas outras iniciativas.Em sociedade com capitalistas ingleses e cafeicultores paulistas, participou da construção da Recife and São Francisco Railway Company, da ferrovia dom Pedro II (atual Central do Brasil) e da São Paulo Railway (hoje Santos-Jundiaí).Iniciou a construção do canal do mangue no Rio de Janeiro e foi o responsável pela instalação dos primeiros cabos telegráficos submarinos, ligando o Brasil à Europa.

Uma viagem de negócios que fez à Inglaterra, em busca de recursos (1840), permitiu a Irineu conhecer fábricas, fundições de ferro e o mundo dos empreendimentos capitalistas, convencendo-o de que o Brasil deveria trilhar o caminho da industrialização. A Inglaterra fora o cerne da Revolução Industrial, e o Brasil ainda era um país de produção rural. Ao retornar, diante da decretação da chamada tarifa Alves Branco (1844) e da alta dos preços do café no mercado internacional no período, decidiu tornar-se um industrial.

Tendo obtido junto ao governo imperial brasileiro a concessão do fornecimento de tubos de ferro para a canalização do rio Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro (1845), liquidou os interesses da Casa Carruthers e, no ano seguinte, adquiriu uma pequena fundição situada na Ponta da Areia, em Niterói, na então Província do Rio de Janeiro. Imprimindo-lhe nova dinâmica empresarial, transformou-a em um estaleiro de construções navais, dando início à indústria naval brasileira.

No ano seguinte, o Estabelecimento de Fundição e Companhia Estaleiro da Ponta da Areia já multiplicara por quatro o seu patrimônio inicial, tornando-se o maior empreendimento industrial do país, empregando mais de mil operários e produzindo navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, além de artilharia, postes para iluminação e canos de ferro para águas e gás. Deste complexo saíram mais de setenta e dois navios em onze anos, entre os quais as embarcações brasileiras utilizadas nas intervenções platinas e as embarcações para o tráfego no rio Amazonas. Em 1849 construiu o maior navio mercante até então construído no país, o Serpente, um navio negreiro rápido, encomendado por Manuel Pinto da Fonseca, que depois de realizar uma única viagem de tráfico de escravos à África, foi vendido à Marinha do Brasil e rebatizado Golfinho.

O estaleiro, na Ponta da Areia, Niterói, Rio de janeiro, foi destruído por um incêndio em 1857 e reconstruído três anos mais tarde. Nos seus onze primeiros anos, antes do incêndio, havia fabricado 72 navios, dentre os a vapor e à vela. Acabou-se de vez quando a lei de 1860 isentou de direitos a entrada de navios construídos fora do país. Isso conduziu a empresa à falência. Na época, o tráfico de escravos gerava muito dinheiro. Porém, Irineu utilizou os recursos usados para a compra de africanos para financiar suas ideias promissoras.

No final da década de 1850, o visconde fundou o Banco Mauá, MacGregor &Cia, com filiais em várias capitais brasileiras e em Londres, Nova Iorque,Buenos Aires e Montevidéu.Liberal, abolicionista e contrário à Guerra do Paraguai, forneceu os recursos financeiros necessários à defesa de Montevidéu quando o governo imperial decidiu intervir nas questões do Prata (1850) e, assim, tornou-se persona non grata no Império. Suas fábricas passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e seus negócios foram abalados pela legislação que sobretaxava as importações.

De ideias políticas de caráter liberal e defensor do abolicionismo, forneceu os recursos financeiros necessários à defesa de Montevidéu quando o governo imperial decidiu intervir nas questões platinas (1850). Contrário à Guerra do Paraguai, foi deputado pela Província do Rio Grande do Sul em diversas legislaturas (1856, 1859-1860, 1861-1864, 1864-1866 e 1872-1875), tendo renunciado ao mandato em 1873 para melhor cuidar de seus negócios, ameaçados desde a crise bancária que se iniciara em 1864.

Teve influência política no Uruguai desde 1850, quando a pedido do amigo Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai e então Ministro dos Estrangeiros, ajuda financeiramente os liberais sitiados em Montevidéu. Lá suas ações passaram a receber favores ou revezes, de acordo com o domínio de blancos ou colorados. No Brasil, mesmo eleito pelo Partido Liberal, apoiou o gabinete de seu amigo visconde do Rio Branco (1871-1875).

A combinação das suas ideias, juntamente com o agravamento da instabilidade política da região platina, tornou-o alvo das intrigas dos conservadores. 

As suas instalações passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e os seus negócios foram abalados pela legislação que reduziu as taxas de importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferragens (tarifa Silva Ferraz, 1860). Com a falência do Banco Mauá (1875), pediu moratória por três anos, sendo obrigado a vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros e ainda os seus bens pessoais para liquidar as dívidas.

Doente, minado pelo diabetes, após liquidar as suas dívidas, encerrou um capítulo da sua vida empresarial. Com o pouco que lhe restou e o auxílio de familiares, dedicou-se à corretagem de café até falecer, aos 76 anos de idade, em sua residência na cidade de Petrópolis poucas semanas antes da queda do Império. Seu corpo foi trazido à corte de trem, pela mesma estrada de ferro que construíra anos antes, e sepultado no mausoléu de sua família (hoje em ruínas), no Cemitério de São Francisco de Paula, no bairro do Catumbi.

O Barão de Mauá foi deputado pelo Rio Grande do Sul em diversas legislaturas, mas renunciou ao mandato (1873) para cuidar de seus negócios, ameaçados desde a crise bancária (1864).

Com a falência do Banco Mauá (1875) o visconde viu-se obrigado a vender a maioria de suas empresas acapitalistas estrangeiros. Doente, minado pelo diabetes, só descansou depois de pagar todas as dívidas, encerrando com nobreza, embora sem patrimônio.

Convivendo em uma sociedade rural e escravocrata, o contato com a mentalidade empresarial britânica que, nos meados do século XIX, gestava a segunda fase da Revolução Industrial, foi determinante para a formação do pensamento de Mauá.

O seu estilo liberal de administrar era personalíssimo para o Brasil, país acostumado à forte centralização monárquica que o Poder Moderador, expresso na Constituição de 1824, havia reafirmado. Sua característica principal, em qualquer setor econômico que atuou, foi o pioneirismo.

Com menos de trinta anos, já possuía fortuna que, segundo ele próprio, "assegurava [a ele] a mais completa independência".

Os seus primeiros passos como empresário foram marcados pela ousadia de projeto, apostando no emprego à tecnologia de ponta. Em toda a sua carreira preocupou-se com a correta gestão de recursos, marcada por uma administração descentralizada, onde a responsabilidade de cada indivíduo na cadeia de comando era valorizada. A sua política salarial expressava, em si própria, um investimento nos talentos de seus empregados, tendo sido pioneiro, no país, na distribuição de lucros da empresa aos funcionários. Em complemento, incentivava os seus colaboradores mais próximos a montar empresas e a fazer negócios por conta própria. O nível de gerência era contemplado com créditos e apoio logístico para operar os empreendimentos, o que combinado com a autonomia administrativa e com a participação nos lucros, permitia fazer face à maioria das dificuldades.

Desse modo, Mauá controlou oito das dez maiores empresas do país: as restantes eram o Banco do Brasil e a Estrada de Ferro Dom Pedro II, ambas empreendimentos estatais. Chegou a controlar dezessete empresas, com filiais operando em seis países. Sua fortuna em 1867, atingiu o valor de 115 mil contos de réis, enquanto o orçamento do Império do Brasil para aquele ano contava apenas com 97 mil contos de réis. Estima-se que a sua fortuna seria equivalente a 60 bilhões de dólares, nos dias de hoje.

Mauá também foi muito conhecido por suas ideias contrárias à escravidão, o que o distanciava das elites políticas do Império, o que se ressentiu indiretamente nos seus interesses comerciais. Com o passar dos anos, Mauá foi se afundando em dívidas, pois sempre que não conseguia recursos, fosse através de subscrições, ou através do apoio financeiro do governo, lançava mão das reservas de sua base de operações: o Banco Mauá & Cia.

No dia 1 de maio de 1910 a prefeitura do então Distrito Federal inaugurou um monumento público em homenagem a Mauá. Uma estátua em bronze do Visconde em tamanho natural sob uma coluna de granito de cerca de oito metros de altura, de autoria do escultor Rodolfo Bernardelli, foi colocada no centro da Praça Mauá, próximo ao cais do porto carioca.

No dia 1 de junho 1914 Foi fundada a Escola Tecnica Estadual Visconde de Mauá no bairro de Marechal Hermes, Rio de Janeiro (Hoje faz parte da rede FAETEC). Em 1926 foi inaugurado o prédio da Estação Barão de Mauá, início da Estrada de Ferro Leopoldina (hoje abandonada).

Em 1936, a Casa da Moeda do Brasil lançou uma moeda de cupro-níquel comemorativa de 200 réis (série "Brasileiros Ilustres") com a efígie de Mauá no verso e da locomotiva "Baronesa" no anverso, com reedições em 1937 e 1938.

Em 1963, os Correios brasileiros emitiram selo com a imagem do Visconde (Barão) de Mauá.

Em 2010, os Correios emitiram o selo comemorativo alusivo aos 150 do Ministério dos Transportes, com a imagem do Barão de Mauá (considerado Patrono dos Transportes).

Em 2013, por ocasião de seu bicentenário, na PUCRS, Porto Alegre, aconteceu evento comemorativo à data que contou com inauguração de Busto de Mauá na Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia - FACE - da PUCRS (cujo Centro Acadêmico leva, desde 1931, o nome de "Visconde de Mauá"), lançamento de Troféu aos melhores estudantes, a ser concedido anualmente, premiação a figuras do mundo acadêmico e industrial e lançamento do livro Mauá: paradoxos de um visionário - obra comemorativa dos 200 anos de nascimento do Visconde de Mauá.

Diversas escolas de samba desenvolveram enredos referindo Irineu Evangelista de Sousa. No carnaval do Rio de Janeiro, em 1963 o GRES Portela com o enredo "Barão de Mauá e suas Realizações", ficou em 4º lugar no Grupo Especial, e, em 2012, a GRES Acadêmicos do Cubango, com o enredo "Barão de Mauá - Sonho de um Brasil Moderno" obteve o 4º lugar no Grupo Acesso A. Na terra natal do personagem, a Escola de Samba Unidos da São Gabriel homenageou-o em 1992 com o enredo "O Apito do Trem", vindo a ser campeã naquele ano.

No bairro de Praia das Palmeiras, em Caraguatatuba, São Paulo, Código de Endereçamento Postal 11666-740, recebe o nome de Rua Irineu Evangelista de Souza. Com a mesma denominação existem logradouros em: bairro de Isaura Parente, Código de Endereçamento Postal 69918-272 e bairro da [[Paz}} e Conjunto Mariana, em Rio Branco, Capital do Estado do Acre, Código de Endereçamento Postal 69919-202/230; no bairro Porto de Santana, na Cidade de Cariacica, Estado do Espírito Santo, Código de Endereçamento Postal 29153-045; na Vila Serradinho, em Campo Grande, Capital do Estado do Mato Grosso, Código de Endereçamento Postal 79104-030; em Indianópolis, na Cidade de Caruaru, Estado de Pernambuco, Código de Endereçamento Postal 55026-120; e no Estado do Paraná, na Cidade de Ponta Grossa, bairro da Estrela, Código de Endereçamento Postal 84040-190, e na Capital Curitiba, no bairro de Fazendinha, Código de Endereçamento Postal 81330-330.

A Associação Comercial do Rio de Janeiro é conhecida como A Casa de Mauá, em homenagem ao ilustre brasileiro.








BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.

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