quinta-feira, 30 de abril de 2015

Os Panteras Negras: a luta contra o racismo (Por Thiago Muniz)

Panteras Negras é o nome de um partido negro revolucionário que foi fundado nos Estados Unidos.

Os Panteras Negras eram integrantes de um polêmico grupo revolucionário americano, surgido na década de 1960 para lutar pelos direitos da população negra. O ponto mais controverso da doutrina do grupo era a defesa da resistência armada contra a opressão dos negros. Fundado em outubro de 1966, o grupo nasceu prometendo patrulhar os guetos (bairros negros) para proteger seus moradores contra a violência policial.

Em meados do século XX, os Estados Unidos eram um país permeado por práticas racistas contra os negros. Estes tinham lugares específicos para sentar no ônibus, andar nas ruas e locais típicos para frequentar, onde não se misturassem com os brancos. Em meio a discriminação, surgiram alguns nomes importantes para a conquista de direitos civis, sociais e políticos para os negros, como Martin Luther King e Malcolm X, por exemplo. Outros dois importantes nomes para o movimento dos negros nos Estados Unidos foram Huey Newton e Bobby Seale. Eles foram responsáveis por fundar, em 1966, o Partido dos Panteras Negras.

Dessa forma, os Panteras Negras entendiam a mão de obra escrava como formadora da riqueza do principal país capitalista do século XX. Por isso, também divulgavam a necessidade de realizar a expropriação dos meios de produção dos capitalistas brancos. O contato com as posições políticas defendidas por Mao Tsé-tung em seu Livro Vermelho serviram ainda para o grupo se ver como uma vanguarda na luta do movimento negro estadunidense.

Uma das formas de ação dos Panteras Negras era o armamento das comunidades negras. Tal posicionamento era decorrente dos constantes atos de violência e brutalidade policial a que estavam submetidos cotidianamente. Por isso, a ação inicial do grupo era contra uma das principais instituições repressivas do Estado: a polícia. Inúmeros foram os casos de confrontos armados entre os Panteras Negras e as forças policiais, resultando em mortes tanto entre os militantes quanto de policiais.

O movimento se espalhou pelos Estados Unidos e atingiu seu período de maior popularidade no final da década de 1960, quando chegou a ter 2 mil membros e escritórios nas principais cidades do país. Mas logo as brigas com a polícia levaram a tiroteios em Nova York e Chicago, e entre 1966 e 1970 pelo menos 15 policiais e 34 "panteras" morreram em conflitos urbanos.

Partido Pantera Negra para Auto-Defesa era o nome original do movimento revolucionário criado em Oakland, na Califórnia. O partido tinha como objetivo patrulhar os guetos negros para proteger os residentes contra a violência da polícia. O grupo assumiu uma filiação ideológica com o marxismo e propunha também que todos os negros deveriam possuir armas e de que todos eles deveriam ser isentos do pagamentos de impostos para um país “branco”. Por conta da exploração sofrida por séculos pelos negros, desde tempos da escravidão, o partido pregava pelo pagamento de uma indenização e pela libertação de todos os negros nas cadeias. No extremo dos casos, eram ainda a favor da luta armada. O partido se tornou muito popular, passou a contar com mais de dois mil membros e exercer atividades nas principais cidades dos Estados Unidos. Ganhou fama simplesmente como Panteras Negras.

Com o passar dos anos, o grupo conseguiu projeção nacional. Ações assistenciais eram realizadas, como a criação de escolas comunitárias, distribuição gratuita de alimentação, bem como a criação de centros médicos destinados a atender a comunidade negra.

O objetivo do partido era também organizar as comunidades negras dos EUA para a defesa de seus próprios interesses, além de construir uma consciência própria desse setor da sociedade, o que passava ainda por uma educação de seus membros, com o objetivo de contar a história da população negra nos EUA de acordo com suas próprias perspectivas.

A radicalização das ações, o fortalecimento dos Panteras Negras, inclusive com a compra de armas, e a unidade de ação conseguida com outros grupos levaram o FBI a intensificar a perseguição ao partido. J. Edgar Hoover, chefe do FBI à época, chegou a apontar os Panteras Negras como a principal ameaça à segurança interna dos EUA.

Os Panteras Negras se envolveram em vários conflitos com a polícia por causa de suas manifestações. A década de 1960 foi a principal neste quesito. Esses confrontos com a polícia, por vezes, terminavam em tiroteios com mortes para ambos os lados. Muitos aconteceram na Califórnia, mas também em Nova York e Chicago. Em uma dessas ocasiões, um dos fundadores dos Panteras Negras, Huey Newton, feriu fatalmente um policial. Foi, então, imediatamente preso pelo assassinato de um policial, preconizando o fim do movimento revolucionário.

Não só Huey Newton, mas também outros membros do Partido dos Panteras Negras foram presos sob acusações de atos criminais. O crescente número de prisões esvaziou gradativamente a ação do partido. Por outro lado, a polícia reagia com, cada vez mais, severidade. A hostilidade empregada foi tamanha que o próprio Congresso abriu investigações sobre a ação policial. De toda forma, os Panteras Negras foram reprimidos, sua liderança dissolvida e o movimento perdeu a simpatia dos negros. A mudança no cenário fez com que os remanescentes do Partido dos Panteras Negras abandonassem a violência das reivindicações e adotassem estratégicas políticas convencionais e a prática de serviços sociais para a população negra. Com atividades mais discretas, porém mais funcionais para suprir as carências dos negros, o Partido dos Panteras Negras manteve-se ativo até a década de 1980.

A luta dos negros americanos contra o racismo atingia novos patamares quando chegaram os Jogos Olímpicos do México, em 1968; ali os Panteras Negras tornaram-se conhecidos do mundo. Os atletas negros consideraram a possibilidade de simplesmente boicotá-los. Não chegaram a tanto. Mas criaram uma associação que deixava clara sua insatisfação com as coisas como eram, a OPHR, as iniciais em inglês de Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos.

No segundo dia da competição, foram disputados os 200 metros livres, uma das provas mais nobres do atletismo. O resultado não surpreendeu: dois americanos negros no pódio, e entre eles, em segundo lugar, um australiano. Tommie Smith (USA), vencedor da competição e John Carlos (USA), terceiro colocado, logo após receberem suas medalhas levantaram os braços com os punhos fechados – esse era o símbolo do Movimento. Além disso, abaixaram a cabeça durante a execução do hino norte americano.

O corredor australiano, Peter Norman, deixou claro seu apoio aos rivais. Recebeu a prata com um distintivo do OPHR na camiseta. Antes, Norman tivera já uma participação relevante no bastidor do protesto mudo: Carlos esquecera o par de luvas que colocaria caso subisse ao pódio. Norman, ao saber disso, sugeriu que cada um dos americanos usasse uma luva.

A imagem dos três no pódio é uma das cenas mais extraordinárias de todas as Olimpíadas disputadas na era moderna, e com o tempo se transformaria num símbolo resistente, poderoso, tocante do movimento de afirmação dos negros americanos.
Só havia – ainda há – um problema: o COI (Comitê Olímpico Internacional) proíbe que atletas usem ou façam símbolos relacionados a qualquer facção, movimento político e/ou afins. Devido ao ato no pódio, os atletas norte americanos foram expulsos dos jogos e também da Vila Olímpica. No entanto, o fato trouxe os olhos do mundo para a luta dos negros norte americanos e, além disso, difundiu pelo mundo a ideologia de direitos iguais independentemente da cor da pele.

O Comitê Olímpico Internacional condenou severamente o gesto, sob a alegação de que esporte e política não combinam. A mídia americana criticou intensamente Smith e Carlos. A revista Time sublinhou a “raiva e a feiúra” do protesto. 

Correram rumores de que ambos perderiam as medalhas, o que acabou não se concretizando.

De volta aos Estados Unidos, Smith e Carlos acabaram relegados a um virtual ostracismo pelas autoridades que comandavam o atletismo americano – brancas, naturalmente. Com a passagem dos anos os dois foram saindo de párias para aquilo que são hoje – heróis.

Menos sorte teve o australiano solidário. Norman passou a ser ignorado pelos chefes do atletismo australiano e, também, pela imprensa local. O racismo grassava também na Austrália – onde os aborígines, os nativos, eram tratados como cidadãos de segunda classe. Sua carreira entrou em colapso e, com ela, sua vida pessoal. Norman logo teria problemas com bebidas. Jamais foi perdoado na Austrália. Um dos mais repulsivos sinais disso é que ele foi ignorado pelos organizadores das Olimpíadas de Sidney de 2000 – mesmo tendo sido um dos maiores corredores da história do país.

TRÊS CAMINHOS PARA A LUTA

Movimento negro americano usava métodos distintos para contestar o racismo nos anos 60

MOVIMENTO PELOS DIREITOS CIVIS

PRINCIPAIS LÍDERES - Martin Luther King Jr.

PROPOSTAS - O pastor batista liderava uma corrente moderada, adepta da não-violência, que defendia a obtenção da igualdade racial por meios pacíficos, com a extensão do direito ao voto a todos os negros e o uso de táticas como boicotes e desobediência civil sem atos violentos.

RESULTADOS - Apesar do assassinato de King em 1968, sua luta gerou a aprovação da Lei dos Direitos Civis, em 1964, que acabou com a discriminação contra as minorias.

NAÇÃO DO ISLÃ

PRINCIPAIS LÍDERES - Malcolm X

PROPOSTAS - Essa vertente religiosa praticava a luta política por meios legais, mas aceitava a violência para autoproteção. Recusando a igualdade racial, o grupo defendia a supremacia e o separatismo dos negros.

RESULTADOS - Anos depois, Malcolm X admitiu a possibilidade de convivência com a sociedade branca, despertando a ira dos antigos seguidores. Foi morto por um deles durante um comício, em 1965.

PANTERAS NEGRAS

PRINCIPAIS LÍDERES - Huey Newton e Bobby Seale

PROPOSTAS - Defendendo o fornecimento de armas a todos os negros, os militantes desse grupo radical pediam ainda a libertação de todos os negros das penitenciárias americanas e o pagamento de indenizações às famílias negras pelo período da escravidão.

RESULTADOS - Os métodos violentos geraram feroz perseguição pela polícia e pelo FBI. Esvaziada, a organização foi dissolvida na década de 1980.




BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.


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